Cirio dos Saloios

O culto a Nossa Senhora do Cabo Espichel ou Santa Maria da Pedra de Mua é documentalmente mencionado pela primeira vez numa carta régia de D. Pedro I, datada de 1366, e constitui uma das mais antigas e interessantes manifestações de religiosidade popular em Portugal. Divulgado o miraculoso achamento da imagem de Nossa Senhora no espigão rochoso do Cabo Espichel, rapidamente o culto cresceu, não só entre as localidades mais ou menos vizinhas da margem sul do Tejo, mas sobretudo na margem norte do rio, recobrindo praticamente todo o território da região saloia. Aqui viria a atingir assinalável relevo, ficando conhecido pela designação de “círio saloio”.

Não se trata de um culto individual, mas de um verdadeiro voto colectivo, de um acto ritual espontâneo feito por toda a comunidade e por ela assumido. Na origem do “círio” está a proteção contra catástrofes naturais, ligadas aos flagelos da agricultura ou às epidemias de peste; por esse motivo, e porque o perigo é ou foi colectivo, também a promessa o é, devendo ser paga pela comunidade como um todo ou por uma Confraria em seu nome, ao longo de sucessivas gerações de romeiros.

No dealbar do século XV estava já edificada (ou reedificada) a pequena capela de Santa Maria do Cabo ou Santa Maria da Pedra de Mua, atualmente conhecida por Ermida da Memória, ali se realizando grandes romarias. Estas peregrinações populares foram crescendo de importância e, em 1430, trinta freguesias da zona saloia – dos atuais concelhos de Lisboa, Sintra, Cascais, Mafra, Loures, Odivelas e Oeiras – combinaram organizar-se entre si, instituindo um “giro” anual: cada uma delas iria, anualmente e à vez, prestar culto ao santuário do Cabo Espichel.

No início do século XVIII retiraram-se quatro freguesias, pelo que o giro saloio é desde então constituído por apenas 26 localidades: S. Vicente de Alcabideche, Linda-a-Velha, S. Julião do Tojal, S. Pedro de Penaferrim, Nª Srª da Misericórdia de Belas, Stª Maria de Loures, S. Lourenço de Arranhó, S. Pedro de Barcarena, S. Pedro de Lousa, Stº Antão do Tojal, Nª Srª da Purificação de Bucelas, Nª Srª do Amparo de Benfica, S. Domingos de Rana, S. João das Lampas, Nª Srª da Purificação de Montelavar, Nª Srª de Belém de Rio de Mouro, Nª Srª da Ajuda de Belém, Ascensão e Ressurreição de Cascais, Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, S. Martinho de Sintra, S. Pedro de Almargem do Bispo, Stº Estêvão das Galés, Nª Srª da Conceição da Igreja Nova, S. João Degolado da Terrugem, S. Saturnino de Fanhões, Stª Maria e S. Miguel de Sintra.

Desta maneira, o círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel é recebido por cada freguesia de 26 em 26 anos, tendo a Paróquia de Santa Maria de Loures a honra de o ter recebido em 2016.